domingo, 12 de maio de 2013

Música e Fé #2: Delineando o músico católico


Mateus V. Corusse
Melissa da Costa

O músico católico, por meio de sua expressão artística, participa da ação criadora de Deus. Sua prática consiste em, a partir da vivência da fé e por meio de seu fazer musical, expressar e manifestar a beleza maior, o próprio Deus. O parágrafo 293 do Catecismo da Igreja Católica (CIC) aponta que "[...] O mundo foi criado para a glória de Deus [...] não para aumentar a [sua] glória, mas para manifestar a glória e para comunicar a sua glória". (CATECISMO, 2002, p.87). Assim sendo, ao manifestar esta mesma glória de Deus, o músico se faz instrumento de continuação dos efeitos da criação. “Com amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador.” (JOÃO PAULO II, 1999, n.p).
Por meio das artes, o homem expressa sua relação com Deus. Também por meio desta, ele instiga, convida e sensibiliza os que apreciam sua arte para vivenciar também este relacionamento. É preciso também ressaltar que, sendo seu talento dom de Deus, não lhe cabe outra postura que não a humilde disposição em colocá-lo a serviço (cf Mt 25, 14-30) O parágrafo 2501 do CIC nos aponta que:

"Criado à imagem de Deus", o homem exprime também a verdade de sua relação com o Deus Criador pela beleza de suas obras artísticas. A arte de fato é uma forma de expressão propriamente humana; acima da procura das necessidades vitais, com todas as criaturas vivas, ela é uma superabundância gratuita da riqueza interior do ser humano. Nascendo de um talento dado pelo Criador e do esforço do próprio homem, a arte é uma forma de sabedoria prática, que une conhecimento e perícia para dar forma à verdade de uma realidade na linguagem acessível à vista e ao ouvido. A arte inclui certa semelhança com a atividade de Deus na criação, na medida em que se inspira na verdade e no amor das criaturas. Como qualquer outra atividade humana, a arte não tem um fim absoluto em si mesma mas é ordenada e enobrecida pelo fim último do homem. (CATECISMO, 2002, p.644)

Levando em conta tais pressupostos, faz-se necessária a busca por uma íntima e pessoal relação com Deus, expressão plena do amor. É neste Amor, vivido na fé, na comunidade e na busca pela santidade que a musicalidade católica torna-se fecunda. Também por meio da oração se promove esta afinidade, principalmente quando as devidas proporções de protagonismo se fazem na mesma: “O homem atinge a plenitude da oração não quando nela exprime com intensidade o próprio eu, mas quando permite que nela se torne mais plenamente presente o próprio Deus” (João Paulo II, 1994, p.36). Deste modo, “Na oração, portanto, o verdadeiro protagonista é Deus.” (JOÃO PAULO II, 1994, p.36).
Abib (2010) aponta alguns pontos necessários para a espiritualidade do músico católico, que se originam na devoção de Nossa Senhora. As práticas indicadas são a participação no sacramento da reconciliação, o jejum, a oração, a palavra de Deus e a Eucaristia. De todos os citados, o último possui prioridade, pois “a Igreja vive da Eucaristia” (JOÃO PAULO II, 2003, n.p).
Outro ponto relevante é a dedicação e aprofundamento tanto no conhecimento da fé, quanto dos domínios musicais. Os dois braços do músico católico, unção e técnica, complementam-se e impulsionam sua expressão artística para a eficácia.

Por isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só assim é que ele pode compreender-se profundamente a si mesmo e à sua vocação e missão. (JOÃO PAULO II, 1999, n.p)

Deste modo, embora existam diferentes contextos de atuação do músico católico, os pressupostos apresentados constituem-se como fundamentais para todas as suas práticas. A ação do músico católico, assim como a de todo e qualquer ministério ou atuação inserida no contexto da Igreja, tem seu centro em seu Senhor Jesus Cristo. A partir do mesmo é que se configura toda sua prática. “O conjunto é dominado pela figura de Cristo, o único Senhor, diante do qual todos somos irmãos. Toda a hierarquia da Igreja, cada carisma e ministério, tudo e todos estamos ao serviço do seu senhorio.” (BENTO XVI, 2007, n.p).


Referências
ABIB, Jonas. Músicos em ordem de batalha. 16 ed. São Paulo: Ed Canção Nova, 2010.

BENTO XVI. Homilia do Papa Bento XVI: Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Disponível em <http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2007/documents/hf_ben-xvi_hom_20071125_anello-cardinalizio_po.html>. Acesso em 11 de mai. 2013.

BÍBLIA Sagrada. Tradução: Centro Bíblico Católico. 126. Ed. São Paulo: Ave Maria, 1999.

CATECISMO da Igreja Católica.São Paulo: Edições Loyola, 2002.

JOÃO PAULO II.Cruzando o Limiar da Esperança. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1994.

JOÃO PAULO II. Carta do Papa João Paulo II aos artistas. 1999. Disponível em <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/documents/hf_jp-ii_let_23041999_artists_po.html> Acesso em 05 de mai. de 2013.

JOÃO PAULO II. Carta encíclica Ecclesia de Eucaristia. 2003. Disponível em <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_20030417_eccl-de-euch_po.html> Acesso em 15 de abr. de 2013.


Mateus V. Corusse
Melissa da Costa

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