Mateus V. Corusse
Melissa da Costa
O músico
católico, por meio de sua expressão artística, participa da ação criadora de
Deus. Sua prática consiste em, a partir da vivência da fé e por meio de seu
fazer musical, expressar e manifestar a beleza maior, o próprio Deus. O
parágrafo 293 do Catecismo da Igreja Católica (CIC) aponta que "[...] O
mundo foi criado para a glória de Deus [...] não para aumentar a [sua] glória,
mas para manifestar a glória e para comunicar a sua glória". (CATECISMO, 2002,
p.87). Assim sendo, ao manifestar esta mesma glória de Deus, o músico se faz
instrumento de continuação dos efeitos da criação. “Com amorosa
condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria
transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador.” (JOÃO
PAULO II, 1999, n.p).
Por meio
das artes, o homem expressa sua relação com Deus. Também por meio desta, ele
instiga, convida e sensibiliza os que apreciam sua arte para vivenciar também
este relacionamento. É preciso também ressaltar que, sendo seu talento dom de
Deus, não lhe cabe outra postura que não a humilde disposição em colocá-lo a
serviço (cf Mt 25, 14-30) O parágrafo 2501 do CIC nos aponta que:
"Criado
à imagem de Deus", o homem exprime também a verdade de sua relação com o
Deus Criador pela beleza de suas obras artísticas. A arte de fato é uma forma
de expressão propriamente humana; acima da procura das necessidades vitais, com
todas as criaturas vivas, ela é uma superabundância gratuita da riqueza
interior do ser humano. Nascendo de um talento dado pelo Criador e do esforço
do próprio homem, a arte é uma forma de sabedoria prática, que une conhecimento
e perícia para dar forma à verdade de uma realidade na linguagem acessível à
vista e ao ouvido. A arte inclui certa semelhança com a atividade de Deus na
criação, na medida em que se inspira na verdade e no amor das criaturas. Como
qualquer outra atividade humana, a arte não tem um fim absoluto em si mesma mas
é ordenada e enobrecida pelo fim último do homem. (CATECISMO, 2002, p.644)
Levando em
conta tais pressupostos, faz-se necessária a busca por uma íntima e pessoal
relação com Deus, expressão plena do amor. É neste Amor, vivido na fé, na
comunidade e na busca pela santidade que a musicalidade católica torna-se
fecunda. Também por meio da oração se promove esta afinidade, principalmente
quando as devidas proporções de protagonismo se fazem na mesma: “O homem atinge
a plenitude da oração não quando nela exprime com intensidade o próprio eu, mas
quando permite que nela se torne mais plenamente presente o próprio Deus” (João
Paulo II, 1994, p.36). Deste modo, “Na oração, portanto, o verdadeiro
protagonista é Deus.” (JOÃO PAULO II, 1994, p.36).
Abib (2010) aponta
alguns pontos necessários para a espiritualidade do músico católico, que se
originam na devoção de Nossa Senhora. As práticas indicadas são a participação
no sacramento da reconciliação, o jejum, a oração, a palavra de Deus e a
Eucaristia. De todos os citados, o último possui prioridade, pois “a
Igreja vive da Eucaristia” (JOÃO PAULO II, 2003, n.p).
Outro ponto relevante é a
dedicação e aprofundamento tanto no conhecimento da fé, quanto dos domínios
musicais. Os dois braços do músico católico, unção e técnica, complementam-se e
impulsionam sua expressão artística para a eficácia.
Por
isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais
se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos
capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só
assim é que ele pode compreender-se profundamente a si mesmo e à sua vocação e
missão. (JOÃO PAULO II, 1999, n.p)
Deste modo, embora
existam diferentes contextos de atuação do músico católico, os pressupostos
apresentados constituem-se como fundamentais para todas as suas práticas. A
ação do músico católico, assim como a de todo e qualquer ministério ou atuação
inserida no contexto da Igreja, tem seu centro em seu Senhor Jesus Cristo. A partir
do mesmo é que se configura toda sua prática. “O conjunto é dominado pela
figura de Cristo, o único Senhor, diante do qual todos somos irmãos. Toda a
hierarquia da Igreja, cada carisma e ministério, tudo e todos estamos ao
serviço do seu senhorio.” (BENTO XVI, 2007, n.p).
Referências
ABIB,
Jonas. Músicos em ordem de batalha.
16 ed. São Paulo: Ed Canção Nova, 2010.
BENTO
XVI. Homilia do Papa Bento XVI:
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Disponível em <http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2007/documents/hf_ben-xvi_hom_20071125_anello-cardinalizio_po.html>.
Acesso em 11 de mai. 2013.
BÍBLIA
Sagrada. Tradução: Centro Bíblico Católico. 126. Ed. São Paulo: Ave Maria,
1999.
CATECISMO
da Igreja Católica.São Paulo: Edições Loyola, 2002.
JOÃO
PAULO II.Cruzando o Limiar da Esperança.
Rio de Janeiro: Francisco
Alves,
1994.
JOÃO
PAULO II. Carta do Papa João Paulo II
aos artistas. 1999. Disponível em <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/documents/hf_jp-ii_let_23041999_artists_po.html>
Acesso em 05 de mai. de 2013.
JOÃO
PAULO II. Carta encíclica Ecclesia de
Eucaristia. 2003. Disponível em <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_20030417_eccl-de-euch_po.html>
Acesso em 15 de abr. de 2013.
Mateus V. Corusse
Melissa da Costa
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